Se a segunda-feira trouxe um alívio para o real, a terça-feira, 5 de agosto, devolveu os investidores à realidade de um cenário global complexo e de incertezas domésticas. O dia foi marcado por uma forte alta do dólar americano, que retomou o fôlego no exterior e encontrou no Brasil um ambiente propício para ganhos ainda mais expressivos. O euro acompanhou o movimento, também subindo com força.
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No fechamento de ontem, terça-feira, 5 de agosto de 2025, o cenário foi o seguinte:
Dólar Comercial: Fechou em forte alta de 1,15%, cotado a R$ 5,5705.
Euro: Fechou em alta de 1,05%, cotado a R$ 6,4375.
O movimento reverteu completamente a queda do dia anterior e foi motivado por uma combinação de dados econômicos que trouxeram novas dúvidas sobre a economia americana, somados a um ruído político-comercial significativo no Brasil, que aumentou a percepção de risco local.
Vamos desvendar as principais motivações por trás do comportamento do dólar, do real e do euro no dia de ontem.
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O Fator Externo: Sinais Mistos da Economia Americana
O principal catalisador do dia no cenário internacional foi a divulgação do Índice de Gerentes de Compras (PMI) do setor de serviços dos EUA, medido pelo ISM. O dado veio mais fraco do que o esperado pelo mercado, sinalizando uma desaceleração no principal setor da economia americana.
A Motivação (e a Reação Contraintuitiva): Normalmente, um dado econômico fraco nos EUA enfraqueceria o dólar, pois aumentaria as apostas de um corte de juros pelo Federal Reserve. No entanto, o mercado reagiu de forma diferente. A fraqueza do dado, somada à decepção com o relatório de empregos da semana anterior, gerou um sentimento de aversão ao risco. Em momentos de incerteza sobre o crescimento global, investidores tendem a fugir de ativos mais arriscados (como moedas de países emergentes) e a buscar a segurança do dólar e dos títulos do tesouro americano, mesmo que a perspectiva de juros caia. O dólar, nesse cenário, se fortalece não por indicar uma economia pujante, mas por ser o "porto seguro" do mundo.
O Fator Doméstico: O "Tarifaço" e a Tensão Comercial
Enquanto o cenário externo já era desafiador, o principal fator que fez o real ter um desempenho pior que o de seus pares foi o ruído em torno das relações comerciais entre Brasil e Estados Unidos. Entrou em vigor ontem o chamado "tarifaço" americano, com a imposição de novas tarifas sobre uma série de produtos brasileiros, especialmente no setor de aço e agricultura.
A Motivação: A medida, parte da política "America First" da administração Trump, visa proteger a indústria local americana. Durante o dia, declarações do Ministro da Fazenda, Fernando Haddad, buscaram minimizar o impacto, afirmando que o tarifaço afetaria cerca de 4% das exportações brasileiras. No entanto, ele admitiu que setores vulneráveis e grandes geradores de emprego seriam atingidos.
A Reação em Cadeia: A efetivação das tarifas e a incerteza sobre a escala de seus impactos e a possibilidade de retaliações geram uma forte percepção de "Risco-Brasil". Para o investidor estrangeiro, a instabilidade nas relações com o maior parceiro de investimentos do Brasil é um sinal de perigo. Esse sentimento provoca a saída de dólares do país, seja por estrangeiros vendendo seus ativos aqui ou por empresas locais comprando dólares para se proteger (hedge), o que aumenta a demanda pela moeda e pressiona sua cotação para cima.
E o Euro? A Reboque do Dólar e das Incertezas
O euro teve um comportamento misto no cenário global, perdendo um pouco de força para o dólar devido aos temores de desaceleração, mas ainda assim se valorizou fortemente contra o real.
A Motivação: O movimento do euro contra a nossa moeda foi, em grande parte, uma consequência da forte desvalorização do real. A moeda brasileira "apanhou" mais que a europeia. A combinação da busca global por segurança no dólar e, principalmente, do aumento do risco fiscal e comercial específico do Brasil, fez com que os investidores vendessem real para comprar moedas fortes em geral, incluindo o euro.
Resumo do Dia e Perspectivas
Portanto, o comportamento do câmbio ontem pode ser resumido da seguinte forma:
Um cenário externo de aversão ao risco, onde dados fracos da economia americana, paradoxalmente, fortaleceram o dólar como um "porto seguro".
Um cenário interno de alta incerteza, com a entrada em vigor de tarifas americanas sobre produtos brasileiros gerando preocupação sobre o futuro das nossas exportações e aumentando a percepção de risco do país.
O Real sofreu um golpe duplo, desvalorizando-se tanto pela força global do dólar quanto pela fraqueza de seus próprios fundamentos locais.
O Euro se beneficiou da fraqueza do real, subindo em um movimento mais atrelado à desvalorização da nossa moeda do que à sua própria força.
Para os próximos dias, o mercado continuará a digerir o impacto do tarifaço e a monitorar de perto os próximos indicadores de inflação e atividade econômica, tanto no Brasil quanto no exterior, em busca de pistas sobre os próximos passos dos bancos centrais. O dia de ontem foi um lembrete de como o real é vulnerável à combinação de um cenário externo adverso com ruídos domésticos.
Aviso: Este artigo tem caráter puramente educacional e informativo, baseado em dados e notícias públicas. A análise do comportamento das moedas não constitui uma recomendação de compra, venda ou qualquer tipo de estratégia de investimento ou operação de câmbio.