O início da semana nos mercados financeiros globais foi pintado com as cores da cautela. Investidores ao redor do mundo adotaram uma postura defensiva, desfazendo-se de posições em ativos de maior risco e buscando refúgio na segurança do dólar americano. O motivo? A ansiedade que antecede a divulgação de um dos dados mais importantes da economia global: o índice de preços ao consumidor (CPI) dos Estados Unidos, previsto para o final da semana.

Esse movimento clássico de "risk-off" (fuga do risco) teve um impacto direto e claro nos ativos que mais interessam ao investidor brasileiro. O real se desvalorizou, e o mercado de criptomoedas viu uma onda de realização de lucros.



Vamos desvendar o que aconteceu com o dólar, o euro e as principais criptomoedas no dia de ontem e as motivações por trás desse "sobe e desce".

Dólar e Euro: A Busca Global por Segurança e o Peso do "Risco-Brasil"

O dia foi de claro fortalecimento para a moeda americana, que subiu não apenas no Brasil, mas em todo o mundo.

  • Dólar Comercial: Fechou em alta de 0,55%, cotado a R$ 5,6540.

  • Euro: Também subiu contra o real, mas de forma mais contida, com alta de 0,30%, cotado a R$ 6,0820.


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As Motivações:

  1. O Fator Principal (Expectativa com a Inflação Americana): O mercado aguarda com enorme expectativa os dados de inflação dos EUA. Se os números vierem acima do esperado, isso reforçará a tese de que o Federal Reserve (o banco central americano) terá que manter sua política de juros altos por mais tempo (higher for longer). Juros altos nos EUA fortalecem o dólar globalmente, pois atraem capital para os títulos do tesouro americano, considerados os mais seguros do mundo. Diante dessa incerteza, os investidores se antecipam, vendendo moedas de países emergentes (como o real) e comprando dólares para se proteger.

  2. O Fator Local (Boletim Focus): No Brasil, a divulgação do Boletim Focus pelo Banco Central adicionou uma camada de pessimismo local. A pesquisa semanal com os principais economistas do mercado mostrou uma leve alta nas projeções de inflação para o final de 2025 e uma redução na expectativa de crescimento do PIB para 2026. Essa combinação, que aponta para um cenário de maior inflação e menor crescimento, aumenta a percepção de "Risco-Brasil" e enfraquece a nossa moeda.

  3. O Euro no Meio do Caminho: O euro perdeu força em relação ao dólar no mercado internacional, influenciado por dados de confiança do investidor na Zona do Euro que vieram abaixo do esperado. No entanto, ele ainda assim subiu contra o real. Isso acontece porque a desvalorização da nossa moeda, pressionada por fatores internos e externos, foi mais forte do que a fraqueza momentânea do euro.

Criptomoedas: O Recuo dos Ativos de Risco

O mercado de criptoativos, por sua natureza de alta volatilidade, é um dos primeiros a sentir o impacto de um cenário de aversão ao risco.

Bitcoin (BTC): Perde Suporte e Liga Alerta

  • O Comportamento: O Bitcoin operou em queda de -2,8% nas últimas 24 horas, perdendo o importante suporte na região dos US$ 112.000 e sendo negociado em torno de US$ 109.500.

  • A Motivação: A mesma lógica que fortalece o dólar prejudica o Bitcoin. Um cenário de juros altos por mais tempo nos EUA diminui a liquidez global e o apetite por ativos especulativos. Sem um catalisador positivo próprio, o BTC ficou à mercê do cenário macroeconômico adverso.

Ethereum (ETH): Queda Mais Acentuada

  • O Comportamento: O Ethereum, que vinha mostrando mais força na semana anterior, sofreu uma correção mais intensa, com queda de -4,1%, sendo negociado na faixa dos US$ 3.380.

  • A Motivação: Por ser geralmente mais volátil que o Bitcoin, o Ethereum tende a sofrer mais em dias de "risk-off". Além disso, o movimento pode ser visto como uma realização de lucros após a alta recente, impulsionada pela especulação em torno de seu ETF.

Principais Variações: Altcoins Sofrem mais

A aversão ao risco fica ainda mais clara quando olhamos para as altcoins (criptomoedas alternativas), que são ainda mais voláteis.

  • Destaques Negativos: Tokens de setores mais especulativos, como memecoins e projetos de games em estágio inicial, registraram quedas que variaram de 8% a 15%. Exemplos incluem Dogecoin (DOGE) e Shiba Inu (SHIB), que recuaram fortemente.

  • Destaques "Resilientes": Projetos com teses mais ligadas à infraestrutura e ao mundo real mostraram mais força. O Chainlink (LINK), por exemplo, teve uma queda mais contida, de cerca de -2%, refletindo sua importância como uma peça fundamental do ecossistema. Da mesma forma, projetos de RWA (Real World Assets) também sofreram menos, por terem um lastro mais tangível.

Todos os Olhos em um Único Número

O comportamento dos mercados nesta segunda-feira foi um claro prelúdio para o resto da semana. Foi um dia clássico de aversão ao risco, onde o capital buscou segurança no dólar e saiu de posições mais arriscadas, como o real e as criptomoedas.

A causa de toda essa ansiedade é uma só: a inflação americana. O número que será divulgado nos próximos dias tem o poder de confirmar ou reverter a tendência de hoje. Se a inflação vier controlada, podemos ver um rali de alívio. Se vier alta, a pressão sobre o real e sobre o mercado cripto deve se intensificar. Até lá, a cautela continuará a ser a palavra de ordem.


Aviso: Este artigo tem caráter puramente educacional e informativo. A análise do comportamento dos mercados não constitui uma recomendação de compra, venda ou qualquer tipo de estratégia de investimento ou operação de câmbio. O investimento em criptoativos é de altíssimo risco e pode levar à perda total do capital investido.